À você dedico esta taça cheia de pedaços de sanidade, como pequenos cubos de açúcar e cristais de arsênico, mergulhados em um líquido carmim. Meus lábios, antes imóveis, agora sorriem. Essa cor é a mesma de meu rosto e essa vida a mesma de meus olhos.
O cheiro agridoce dessas pétalas foi trazido pelo vento, meu amor, de um jardim onde eu costumava viver. Onde minha doçura se desintegrou sob o som dos ossos de cada esperança que abandonei. Onde eu costumava caminhar e perder meus pensamentos, e foi onde os meus sonhos ficaram.
Exceto você.
Você nasceu de um sonho que nunca concebi. Ora, e como poderia eu assassinar algo que sequer conhecia? Como poderia arfar sob o peso de mil lesões sem antes conhecer o alívio de quando seus lábios tocam os meus? E o sabor de tal brandura não poderia sequer brotar entre qualquer pólen do meu jardim!
Por isso eu brindo, brindo e de um só gole bebo desta taça. E quando engolir a última gota, quando deixar de me embriagar, então você, meu amor, será mais uma pétala envelhecida entre as páginas daquela memória. Mas com certeza a mais bela de todas. A única real.
Você vive em mim.
E eu viverei sob o instante em que você existiu.
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