sexta-feira, 28 de setembro de 2012



O fino haste da flor noturna se curva ao vento
e joga nele seus pólens venenosos.
Tão lânguido passeia o anjo caído pela noite
fugindo de Deus, ocultando olhares lacrimosos.

Um coração que foi feito rei agora sangra.
Sustenta uma coroa de espinhos envelhecidos
O amor, afogado em uma mancha escura
carrega consigo seus belos sonhos feridos.

Cessou sua vida ao resplandecer
As mãos unidas, de olhos fechados.
Amou, amou, meu caro amigo
E desse amor foi feito o pecado.



Houve tempos em que agarrava-me às grades de minha prisão,
grades estas que possuíam espinhos e cortavam-me as mãos
Tentei fugir das pedras e espinhos que sufocavam-me
as pétalas
mas quanto mais fugia mais era a vontade de abraçá-las.

Por mais de uma vez tentei desabrochar, em vão
Pedras e espinhos frustravam meus esforços,
e permaneci botão.
À sombra de um pássaro de escuras plumas
vi-me afogar em lágrimas profundas.

E o meu príncipe encantado
ao colher-me em suas mãos
lançou-me ao fogo brando, mentindo:
"Ai, como eu amo este botão!".

Pequeno lago



A essência se esvaiu
como um cardume de pequenos peixes.
Paciência é só um mal conselho.
E eu não sei se ainda existo
E eu não sei por que aguentar

Chorei enquanto a noite caía, baixinho,
para que a dor fosse só minha.
Solidão é um meio de vida.
E eu não quero um tapinha nas costas
E eu não quero mais conversar.

Um par de olhos castanhos, tão comum
quanto as frases sem sabor que falo.
Não é só estender a mão e "Salve-me".
Quero sentir a água enchendo meus suspiros.
Mesmo que eu não possa enxergar o fundo barrento deste lago morto.

E eu não sei se ainda existo.
E eu não quero mais conversar.



Este coração esguio
deveria, deveria estar em choro.
Esperava-se dele, doentio,
a menor lágrima que fosse.

Eu vi corações morrendo
de amores, oh, ensandecidos.
Enquanto este meu peito
sequer dolorido,
não se contorce de saudades

Porque morreu,
morreu para mim o sentimento.
E é sepulcro o cheiro que aspiro.













Viver...
Os elogios tornam-se coisas
                    tangíveis
que me partem a cara.
O coração, este imundo,
     vira-se vapóreo,
lembrança de uma canção.
Onde fui? Pra que vim?
A interrogação é fôrca florida,
num cadafalso de roseiras brancas.

Tudo que faço
é piscar estes olhos secos,
numa saudade de choro,
       lágrimas penitentes,
que me faziam mais felizes
do que este sorriso
    palpitante e
                          mascarado.

(23/07/2007)