terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Cores



Aos poucos,
todos os esforços, todos os sonhos
vão ficando sem graça.
Aos poucos,
vou sentindo o mesmo
mas por bem menos,
com nenhuma nobreza.
Aos poucos
todas as cores minhas
vão sumindo
e eu nem ao menos sinto vontade
de limpá-las enquanto escorrem de mim.
E aos poucos
uma felicidade monocromática
vai tomando conta
enquanto me sufoca
no meu próprio sorriso preto e branco.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012



O fino haste da flor noturna se curva ao vento
e joga nele seus pólens venenosos.
Tão lânguido passeia o anjo caído pela noite
fugindo de Deus, ocultando olhares lacrimosos.

Um coração que foi feito rei agora sangra.
Sustenta uma coroa de espinhos envelhecidos
O amor, afogado em uma mancha escura
carrega consigo seus belos sonhos feridos.

Cessou sua vida ao resplandecer
As mãos unidas, de olhos fechados.
Amou, amou, meu caro amigo
E desse amor foi feito o pecado.



Houve tempos em que agarrava-me às grades de minha prisão,
grades estas que possuíam espinhos e cortavam-me as mãos
Tentei fugir das pedras e espinhos que sufocavam-me
as pétalas
mas quanto mais fugia mais era a vontade de abraçá-las.

Por mais de uma vez tentei desabrochar, em vão
Pedras e espinhos frustravam meus esforços,
e permaneci botão.
À sombra de um pássaro de escuras plumas
vi-me afogar em lágrimas profundas.

E o meu príncipe encantado
ao colher-me em suas mãos
lançou-me ao fogo brando, mentindo:
"Ai, como eu amo este botão!".

Pequeno lago



A essência se esvaiu
como um cardume de pequenos peixes.
Paciência é só um mal conselho.
E eu não sei se ainda existo
E eu não sei por que aguentar

Chorei enquanto a noite caía, baixinho,
para que a dor fosse só minha.
Solidão é um meio de vida.
E eu não quero um tapinha nas costas
E eu não quero mais conversar.

Um par de olhos castanhos, tão comum
quanto as frases sem sabor que falo.
Não é só estender a mão e "Salve-me".
Quero sentir a água enchendo meus suspiros.
Mesmo que eu não possa enxergar o fundo barrento deste lago morto.

E eu não sei se ainda existo.
E eu não quero mais conversar.



Este coração esguio
deveria, deveria estar em choro.
Esperava-se dele, doentio,
a menor lágrima que fosse.

Eu vi corações morrendo
de amores, oh, ensandecidos.
Enquanto este meu peito
sequer dolorido,
não se contorce de saudades

Porque morreu,
morreu para mim o sentimento.
E é sepulcro o cheiro que aspiro.













Viver...
Os elogios tornam-se coisas
                    tangíveis
que me partem a cara.
O coração, este imundo,
     vira-se vapóreo,
lembrança de uma canção.
Onde fui? Pra que vim?
A interrogação é fôrca florida,
num cadafalso de roseiras brancas.

Tudo que faço
é piscar estes olhos secos,
numa saudade de choro,
       lágrimas penitentes,
que me faziam mais felizes
do que este sorriso
    palpitante e
                          mascarado.

(23/07/2007)

sábado, 23 de junho de 2012

Paladino




Meu paladino tinha uma armadura brilhante
Meu paladino tinha uma espada impecável
Mas sua alma era maculada

 

Meu paladino falava de luz
Meu paladino falou de amor
Mas seu coração tinha ódio e escuridão 

 

Meu paladino....
era assim como eu.
Mas melhor, e eu o amei.
Pois toda sua mácula e dor
eram pureza.
Pois tudo nele
era salvação.

Então ele partiu
deixando um rastro de sombras
e de sonhos intangíveis.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Brancas e Pretas



Todos temos dois lados. Até mais, algumas vezes.
Serão sempre antagônicos, opostos...
Mas sempre serão partes de nós mesmos, mesmo o lado mais cruel,
ou o lado mais bondoso. Aquilo que se nega, que se despreza, é uma parte de nós.
E quando finalmente o confrontamos, o lado que se deleita com o sangue do
perdedor torna-se, na verdade, uno com o que detestava, embora sua natureza predomine.
Mas pode acontecer de, após o confronto, mais lados surjam de dentro de nós.

Algumas vezes odiamos o espelho, pois é o único que nos força a encarar nossos próprios olhos.
Espelhos são portais, olhos são janelas. Talvez como um espelho de frente para o outro...aquele efeito atordoante...


Sempre me deparo com perguntas: Qual a cor das minhas "penas"? Brancas ou pretas? As duas, tenho certeza, mas qual predomina?...

Não importa. O lago dos cisnes sempre estará lá, mas nunca alcanço o penhasco da liberdade...