Meus pés tocaram a lama que se espalhava como uma onda leve quebrando na areia. Aos poucos eu senti o cheiro e logo meu tornozelo havia sumido sob aquela neve escura. Ficava denso, era ruim de caminhar, mas eu segui em frente.
Isso já aconteceu outras vezes, por que eu afundaria como na única vez em que deu errado?
Aos poucos as flores acenam pra mim, como se eu estivesse me afastando. A dormência logo aparece, como um velho cobertor deliciosamente confortável. Vai me cobrindo aos poucos. Eu já o vesti uma vez, como uma armadura, carreguei enquanto brandia um machado e berrava sobrevivência internamente. Mas agora, de novo, é só uma manta de algodão e seda, me convidando para dormir, onde eu imagino que vou sorrir docemente.
Por favor, não deixe meu sorriso morrer de novo.
A chuva começa a cair no meu rosto, tão rala que não abre caminho no piche que agora acaricia minhas coxas. Uma chuva salina, gentil. Me dizendo que há como transbordar a imundície, como sempre foi feito, há como lavar e aliviar, veja, logo a chuva se torna um pequeno rio de esperança.
Esperança...?
Eu estou chorando, meu deus, eu estou chorando. Isso não é um chuva.
Meu tórax aperta. Onde está aquela nuvem que eu usava para anestesiar?
Ah... a lama já subiu até aqui...
Eu vou conseguir de novo, é só um momento.... não é?